Tiros, desespero e correria foram o cenário da Universidade Estadual da Paraíba, no Campus de Campina Grande, na manhã desta segunda-feira, 1 de abril.
Corpo de Bombeiros atende mais de 8 pessoas que ficaram feridas na manhã de 1 de abril na UEPB // Foto: Sara Silva
A insegurança nas dependências do prédio da Universidade Estadual da Paraíba não é uma pauta que venha a ser discutida hoje. E nesta segunda-feira, estudantes, professores e funcionários do Campus I, localizado em Campina Grande, passaram por um grande susto nesta manhã, quando 4 homens armados invadiram a CIAC (Central de Integração Acadêmica), na tentativa de assaltar um carro-forte - Veículo Especial de Transporte de Valores - que chegava ao banco, localizado dentro da Universidade.
Durante toda a movimentação de tiros, aproximadamente 5 mil alunos que se encontravam na instituição de ensino, entraram em desespero e não sabiam à o quê ou a quem recorrer. Estudantes apavorados corriam pelos corredores, outros ficaram onde estavam, conseguindo refúgio com os colegas de turma. Alguns, porém, temendo um massacre como foi vivenciado há poucas semanas em São Paulo, tentaram fugir do local pelas mais diversas formas, pulando do andar do prédio e descendo escadas sem atenção.
Cena do crime: Agência do banco é invadida. // Foto: Iara Lima
Wesley Porto, que trabalha em uma copiadora dentro da universidade, estava durante o serviço quando ouviu os tiroteios e viu os seguranças correndo. Ao ver esse cenário, entrou para a copiadora e fechou a porta, sem saber o que estava acontecendo. “A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi o massacre de Suzano. [..] estava tendo um movimento contra a ditadura militar na Universidade e alguns alunos se mobilizaram para fazer um evento a favor, mas não foi permitido”. Num primeiro momento, para Wesley, este poderia ser o motivo do ocorrido.
Segundo a Professora Solange Norjosa, o fato também pareceu ser relacionado ao projeto “Ditadura nunca mais”, ao qual ela estava à frente. “Estávamos colocando o som e quando ouvimos o barulho dos tiros, a gente olhou e pensou que era alguém fazendo encenação. Eu só me dei conta quando o vi atirando com uma grande arma e muitas pessoas correndo”.
Sandra Gomes é dona de uma barraca de lanches que se localiza em frente ao prédio da CIAC e viu todo o movimento. O segurança que levou um tiro na perna, as pessoas correndo pela escada desesperadas, outros pulando do prédio na tentativa de se salvar. Tudo foi flagrado pelos olhos da trabalhadora. “Uma menina chegou aqui com o pé balançando, quebrou mesmo. Outro menino saiu rolando pela escada e chegou aqui com o nariz quebrado, todo cheio de sangue”, explicou. Sandra ajudou alguns estudantes que chegaram feridos na sua barraca, os tranquilizou e os ajudou a se limparem para serem encaminhados ao hospital.
Foto: Sara Silva
Diante do cenário em que a UEPB estava os bombeiros, assim que presentes na cena do crime, se depararam com um “cenário de pânico”, como explicou o Comandante dos Bombeiros, Jean Benício: “Um dos meliantes foi atingido, um segurança foi baleado no membro inferior e mais de oito pessoas foram socorridas porque todos saltaram de uma altura considerável, seja ela rampa ou janelas.”
De acordo com Rangel Júnior, Reitor da UEPB, a Universidade investe, por ano, quase 10 milhões em segurança, mas um dos aspectos que ele levantou ao avaliar o assalto que ocorreu e que impede o problema de ser resolvido, é o fato da Universidade ter muitas entradas e estar em uma rua pública, onde não pode haver fechamentos.
Essa questão já esteve em pauta em outros momentos, como ele contou. Mas apesar disso, segundo o Reitor, um acontecimento como este, já era esperado. No ano passado, um caso parecido aconteceu na UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), quando uma agência da Caixa Econômica Federal foi alvo de um assalto.
Pessoas lesionadas são socorridas pelo Corpo de Bombeiros, após tentativas de salvar a própria vida em dia de pânico na UEPB. // Foto: Iara Lima
“Nós temos muitas entradas, isso aqui é uma rua pública, nós não podemos fechar. Muita gente brigou, protestou, porque nós restringimos essas entradas. Porque quanto mais você restringe os pontos de acesso, mais você tem controle sob os locais. Nosso contrato original com o banco não prevê a liberação de dinheiro em caixa eletrônico, nós só liberamos porque haviam muitos pedidos de gente da própria comunidade, correntistas do banco que queriam movimentar recursos aqui com facilidade”, contou.
Em relação ao alvo dos assaltantes, os caixa eletrônicos e bancos no interior da Universidade, o Reitor comentou: “... O banco mantém a sua segurança própria, mas a vigilância da Universidade não pode investir em segurança desse padrão, a nossa segurança é patrimonial.”
A segurança patrimonial a que ele se refere diz respeito a uma segurança privada contratada por entes, sejam de empresas privadas que prestam esse serviço ou públicas, com o objetivo de resguardar o patrimônio contra a ação de destruição de vândalos, por exemplo. Como explicou o advogado Andrey Levi: “Apesar de não haver responsabilidade direta dessa segurança patrimonial sobre bens pessoais, de certa forma, há uma limitação dos meliantes, porque sabem que naquele ambiente existe, de certa forma, alguma segurança.”
Foto: Iara Lima
Com o grande impacto psicológico nos presentes e familiares, as atividades do Campus I foram suspensas durante todos os expedientes de hoje e com previsão de volta amanhã, terça-feira, 2 de abril. Também foi divulgado pela instituição que haverão profissionais da área de psicologia para àqueles que necessitarem de ajuda para superarem esse dia que poderia ser mentira, neste dia 1 de abril.
Texto: Elisângela Andrade, Iara Lima e Sara Silva Entrevistas: Elisângela Andrade, Iara Lima, José Rodrigo e Sara Silva
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