Conheça a história de Célia Maria e sua família: catadores para reciclagem e pescadores para seu sustento.
O Açude Velho é o cartão postal de Campina Grande. Os turistas vão para tirar fotos, visitar os museus, e a população local caminha diariamente. Mas há uns personagens que, muitas vezes, passam despercebidos, mesmo que estejam todos os dias por lá. É o caso de Célia Maria, de 55 anos, moradora do bairro Jardim Continental, está quase todas as noites pescando, junto com sua família, para garantir a comida no prato de cada dia.
Por volta das 18h, Célia está chegando às margens do Açude Velho, depois de um dia todo catando materiais recicláveis nas ruas. Há cerca de 5 anos pesca o alimento para a família. “A gente pesca pra gente comer em casa mesmo. O que a gente pega não dá pra vender. A gente divide, um pouquinho pra um, um pouquinho pra outro. Tem gente aqui que pesca pra vender, mas a gente não”, explica ela.
A mulher, que é natural de Lagoa Seca, mora em Campina Grande há uns 30 anos e faz o percurso a pé, em média 4 km por dia, para chegar até o Açude, e volta às 23h para casa, enfrentando o mesmo trajeto junto com seus cunhados, filhos e netos. “Eu não acho perigoso. A gente sai daqui de noite, pegamos uma mata e chegamos em paz em casa, ninguém mexe com a gente”.
Mesmo com a distância, a catadora de reciclagem não reclama de nada. “Eu acho tão bom estar aqui, é um divertimento pra mim e pros meninos. É uma coisa que eu gosto de fazer. Quando eu não venho, eu fico doente”, explicou Célia, enquanto pescava um peixão: “Esse aqui já é o pirão de amanhã e o lanche dos meninos, de manhãzinha com café”. As crianças que estavam ajudando a pescar também catam objetos recicláveis nas ruas dos bairros Alto Branco, Bairro das Nações, Genipapo, e na cidade de Puxinanã.
“Gosto de passar o dia batalhando, conseguindo uma coisinha aqui outra lá. Um saco de reciclagem de manhã e outro de tarde. Tem gente que a gente chama, mas acha ruim porque é longe. Eu venho!”. Célia e sua família, assim como todos os outros que usam o açude para conseguir alimentos, têm permissão apenas à noite, até as 4h da manhã. No domingo, são liberados a partir do meio dia, e neste dia, todos ficam nos arredores do açude, perto do semáforo, para que as crianças possam arrumar umas moedas.
Célia disse que todos os filhos e netos trabalham, mas estudam. “Eu não sei nem pra onde vai a caneta”, brincou. “Eu não tive tempo de estudar. Meus pais não tiveram como me colocar na escola, só no cabo da enxada pra trabalhar. É por isso que hoje eu gosto de estar no mundo fazendo alguma coisa”. As crianças, de 11 e 12 anos, também têm seus sonhos: Maria Jocélia, por exemplo, tem o sonho de ser professora, enquanto José Augusto quer ser jogador de futebol.
Célia relembra seu passado e afirma que procura motivar os meninos para o estudo: “Eu tinha vontade de estudar e não podia, hoje eles ficam com preguiça de ir pra escola e eu falo que o tempo deles é bom demais. A gente vai na escola, matricula vocês, compra caderno, material e no meu tempo eu não ganhava nada além de uma enxada. Mesmo assim eu sou muito feliz. Não tive estudo, mas sou feliz com minha vida”.
Texto e fotos: Iara Lima
Revisão do texto: Edson Tavares
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